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Humaniza??o do parto esbarra na cultura das cesarianas

Brasil carrega o triste t?tulo de recordista mundial em partos cir?rgicos, em parte por culpa da pr?pria classe m?dica

Segunda-feira, 29 de março de 2010


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Iniciativas para incentivar a humanização do parto são simples e na maioria das vezes baratas, mas ainda esbarram na cultura do parto cirúrgico. A inauguração da primeira banheira para parto na água de Curitiba, na semana passada, é um exemplo de que não é preciso muito investimento em estrutura ou equipamentos para garantir às mães o acesso a um parto seguro e com o mínimo de intervenção. Trata-se de uma banheira co­­mum, como a que qualquer pessoa pode ter em casa. Mesmo assim, a opção só está disponível em uma maternidade de Curitiba.

O exemplo ilustra a dificuldade de se superar a chamada cultura da cesariana. Apesar das constantes campanhas de incentivo ao parto natural, o Brasil ainda carrega o título de recordista em partos cesáreos. Eles representam 43% dos partos feitos no país, segundo o Ministério da Saúde, enquanto que a recomendação da Orga­­nização Mundial da Saúde é que essa porcentagem não ultrapasse os 15%.

Nos últimos anos, o governo brasileiro tem realizado uma série de ações e campanhas para tentar mudar esse quadro. No entanto, modificar a mentalidade de mães e médicos não é tarefa fácil, principalmente fora do sistema público de saúde. Cerca de 80% dos partos feitos por convênios ou particulares são cesarianas. “Há uma associação muito forte entre o parto natural e a dor. O medo de sentir dor é o principal motivo para as mães preferirem a cesariana. É preciso desmistificar isso, os conhecimentos fisiológicos avançaram muito e hoje é possível ter um parto natural, em um ambiente acolhedor com o mínimo de intervenção médica possível e sem dor, graças à analgesia”, afirma o diretor do departamento de ações programáticas e estratégicas em saúde do Ministério da Saúde, José Telles.

Além de vencer a resistência por parte das gestantes, é preciso enfrentar a outra ponta do problema: os médicos. É comum que muitos deles priorizem as cesarianas por questões de comodidade e economia de tempo. “É uma queixa frequente entre as gestantes o fato de querer o parto normal e não encontrar um médico que faça esse acompanhamento. A maioria tenta convencer a mãe a fazer uma cesárea”, conta Patrícia Bortolotto, uma das coordenadoras do Grupo Gesta Curitiba, que reúne gestantes para discussões de temas relacionados a maternidade e troca de experiências.

A engenheira mecânica Carolina Ribeiro, 34 anos, trocou de médico três vezes durante a gravidez. “Já estava com sete meses quando me convenci de que minha médica não era muito partidária da ideia de fazer um parto normal. Sempre que eu tocava no assunto ela dizia que era cedo para falar disso e não se mostrava muito entusiasmada”, conta. Descontente, ela decidiu trocar de médico. “Cheguei a ir a uma outra médica, mas também não gostei e no fim encontrei o médico que acabou fazendo meu parto. Ele é um defensor do parto natural e se dedica a isso. Foi muito tranquilo, meu parto durou 20 minutos, se tiver outro filho vou querer parto normal de novo”, diz a moça, que teve a primeira filha, Luize, em outubro do ano passado.

Para o obstetra Carlos Na­­varro, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a capacidade de reverter esse comportamento está nas próprias mulheres. “É preciso que elas se convençam das vantagens do parto natural e questionem o médico, não se acomodem”, defende. Em relação ao comportamento dos médicos, ele considera importante uma mudança na abordagem do tema desde a universidade. “Mudar a cabeça de quem já trabalha de uma certa maneira há muitos anos é difícil, por isso considero fundamental que os benefícios do parto normal sejam discutidos ainda na graduação, para que os novos médicos já tenham uma outra mentalidade”, afirma.

Para Telles, mudar uma cultura é algo que leva tempo, mas que é possível. “Veja o exemplo do alojamento conjunto. Antigamente o bebê era isolado da mãe e os pediatras defendiam que essa era a melhor conduta, hoje ninguém mais faz isso, o bebê é deixado o máximo de tempo possível com a mãe. Estamos trabalhando para que as maternidades se adequem às políticas de humanização, como a presença de um acompanhante ou adaptações físicas no ambiente de parto. São medidas simples, de baixo custo, mas que acabam tendo um impacto enorme”, afirma.

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